Turma 2016

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sexta-feira, 3 de junho de 2016

LASER DE BAIXA INTENSIDADE ASSOCIADO A FITOTERÁPICOS NO TRATAMENTO DA MUCOSITE ORAL

Vânia Thais Silva Gomes


De acordo com relatório da Agência Internacional para Pesquisa em Câncer – IARC (2009) e Organização Mundial da Saúde – OMS (2008), o câncer ainda é considerado a principal causa de morte em países desenvolvidos, permanecendo em segundo lugar nos países em desenvolvimento.
Para o câncer infantil, o Instituto Nacional do Câncer - INCA (2016) estima que ocorram 12.600 nos anos de 2016 e 2017. Dentre estes casos, 70% das crianças e adolescentes diagnosticadas com câncer podem ser curadas se o tratamento for instituído precocemente, sendo os mais empregados a cirurgia, a quimioterapia e a radioterapia.
A radioterapia é um tratamento para tumores malignos cuja terapia empregada é a radiação ionizante, ou seja, aquela que requer ionização no meio em que ocorre, a tornando eletricamente inconstante. As radiações ionizantes atuam sobre o DNA nuclear induzindo à morte ou à perda de sua disposição reprodutiva. Dessa forma o teor de DNA dobra durante a mitose, assim como células com alto grau de atividade mitótica são mais radiossensíveis do que aquelas com baixa taxa de mitose (CACCELLI; RAPOPORT, 2008).
Já a quimioterapia se estabelece através do uso de medicamentos que dominam ou curam o câncer, pois esta atua no extermínio de células malignas, evitando a formação de um novo DNA, além de impedir funções efetivas da célula ou induzir a apoptose. Por ser uma terapêutica sistêmica, todos os tecidos podem ser comprometidos, em graus distintos. Podem ainda causar desconfortos no sistema digestório como: náuseas, vômitos, anomalias no paladar, além de proporcionar redução no consumo alimentar e, portanto depleção do estado nutricional, elevando assim os índices de morbimortalidade (TARTARI et al., 2010).
Durante o tratamento quimioterápico e/ou radioterápico o paciente apresenta diversos sintomas associados à doença ou a terapia empregada, o que intervêm significativamente na qualidade de vida do individuo. Uma das complicações mais recorrentes é a mucosite oral, que é resultante de uma ação inflamatória na cavidade oral (SCHIMER; FERRARI; TRINDADE, 2012).
Atualmente, alguns autores propuseram o termo “mucosite do trato alimentar”, substituindo o termo mucosite oral. Fato este justificado por eles, por conta das alterações bucais que compõem apenas parte de um grupo das alterações que acontecem em todo o trato gastrointestinal. Para tanto, a nomenclatura sugerida retrataria melhor as características dessa alteração (PETTERSO et al., 2006).
Quanto à sintomatologia inicial da mucosite oral, podem ser observados eritemas, edemas, sensação de ardência, e sensibilidade acrescida a alimentos quentes ou ácidos e ulcerações doloridas recobertas por exsudato fibrinoso (pseudomembrana) de cor brancacenta ou opaca (FRANCISCO, 2010).
Dependendo do estado do paciente podem surgir múltiplas e extensas úlceras, induzindo à desnutrição e à desidratação. Ainda podem surgir ulcerações aumentam o risco de infecção local e sistêmica, além de comprometerem a função oral, o que pode interferir no tratamento antineoplásico, o que pode levar à sua interrupção, comprometendo assim a sobrevida do paciente (KOSTLER et al., 2001).
O mecanismo de ação da mucosite oral se fundamenta na ocorrência da alta atividade mitótica e turnover celular (renovação celular) da mucosa oral. Uma vez que o alto grau de descamação celular obriga que as células epiteliais se reproduzam mais rapidamente para recobrir a mucosa da boca (SANTOS et al., 2011).
No que se refere à prevenção e ao tratamento da mucosite oral ainda não estão bem constituídos, mesmo que haja numerosos estudos tentando compreender e descobrir medidas para diminuir a sua gravidade e prováveis complicações. Em meio a estes agentes mais pesquisados e empregados para a profilaxia e a terapêutica da mucosite oral, está o digluconato de clorexidina a 0,12%, bastante utilizada devido suas propriedades antimicrobianas. Outro método empregado é o laser de baixa intensidade, que tem proporcionado bons resultados no que se refere manejo da mucosite oral, sendo eficaz no controle sintomático e na diminuição da incidência, assim como na severidade das lesões, isso por conta da função dos processos de bioestimulação tecidual, da aceleração do processo de cicatrização e alívio da dor (BRITO et al., 2011).
No que se refere aos lasers de baixa intensidade (LBI), refere-se a lasers sem potencial fototérmico, sendo assim empregados para biomodulação. Os mais utilizados estão na faixa do vermelho (632 a 780 nm), constituídos por fótons de energia inferior a 2,0 elétron-volt (eV), logo, inferior a energia da ligação das moléculas biológicas e do DNA, dessa forma não podem quebrar ligações químicas e não são apropriados para induzir mutação e carcinogênese ( LOPES; MAS; ZÂNGARO, 2006).
A interação entre a luz irradiada do laser no tecido é determinada pelas características ópticas de cada tipo de tecido, dentre estes elementos as propriedades ópticas (reflexão, absorção e espalhamento), assim como as propriedades térmicas como a condutibilidade térmica e a capacidade térmica do tecido. Outros fatores são essenciais, tais como o comprimento de onda, energia aplicada, potência, assim como o tempo de exposição da luz no tecido (BAGNATO, 2001).  
Quando uma matéria viva é irradiada com laser ela interage com as propriedades ópticas de reflexão, transmissão, espalhamento e absorção, dessa forma quando o tecido é  irradiado somente uma parte da luz não penetra, portanto sendo refletida, porém uma outra parte da luz penetra no tecido, sendo uma porção absorvida, outra espalhada e ainda uma outra porção que será transmitida (LADALARDO et al. 2004).
Portanto o laser é um equipamento que exerce manobras de transposição de população, isto porque consiste na absorção de energia, isso ocorre para que a maior parte dos átomos se excite. Fazendo com que a após a transposição de população haja um retrocesso ao estado inicial com liberação de fótons.  Essa energia térmica influencia na transposição de população, mas quando os elétrons voltam para sua configuração estável, os fótons são liberados sem relação de fase, ocorrendo dessa forma a emissão espontânea (CAVALCANTI et al. 2011).
O resultado da irradiação com LBI se fundamenta na disposição de modulagem assim como em múltiplos procedimentos metabólicos, mediante a conversão da energia luminosa aportada pelo laser através de processos bioquímicos e fotofísicos, os quais alteram a luz laser em energia útil para a célula. Sendo assim laser visível implica em reações nas mitocôndrias, com desdobramento na produção de ATP mitocondrial, acréscimo no consumo de glicose celular, aumento dos conteúdos de cálcio intracelular e do número de mitocôndrias celular (CHAO; DEASY, 2009).
Portanto, os múltiplos efeitos do laser de baixa intensidade se devem a sua atuação em vários planos. Localmente, ocorre diminuição da inflamação por meio da reabsorção de exsudatos e da supressão de substâncias algiogênicas. Há ainda, interferência na mensagem elétrica durante a transferência do estímulo, conservando o gradiente iônico nos dois lados da membrana celular e impedindo ou diminuindo a despolarização da mesma, atuando ainda sobre as fibras nervosas grossas que, quando estimuladas pelo laser, provocam bloqueio das fibras finas (ANDRADE; FRARE, 2008).
Além dos lasers e da clorexidina, os fitoterápicos são bastante utilizados para tratamento da mucosite oral, visto que o uso de plantas medicinais com fins terapêuticos é uma das mais remotas formas de prática medicinal da humanidade. Neste contexto, o Brasil é o país de maior biodiversidade do planeta (de 15 a 20% do total) que quando, agregada a uma rica variedade de etnias e culturas, detém de um estimado conhecimento clássico, associado ao uso de plantas medicinais (CAETANO et al., 2015).
A utilização de plantas medicinais pela população é natural da crença de que os medicamentos provenientes de extratos naturais têm menor possibilidade de ocasionar implicações colaterais e são mais eficazes que os medicamentos alopáticos, além de serem mais comuns e baratos. Porém, sabe-se que os fitoterápicos também podem conter efeitos colaterais e possuem contraindicações, sendo imprescindível conhecer seus princípios ativos, os aspectos relacionados à qualidade da planta e sua procedência a fim de que possam ser usados com segurança (SANTOS, 2012).
O aumento mundial da fitoterapia empregada aos programas preventivos e clínicos tem estimulado a avaliação dos extratos de plantas para o uso no tratamento de enfermidades bucais como no tratamento da mucosite oral, controle do biofilme dental e outras afecções bucais. De tal modo que, os pacientes são beneficiados pela prosperidade em recursos naturais proporcionados pela flora brasileira, pois os produtos naturais estão cada vez mais presentes nos consultórios médicos, odontológicos, embora a fitoterapia ainda possa ser pouco difundida fora do meio acadêmico (OLIVEIRA, 2007).
Os produtos odontológicos contendo substâncias naturais apresentam boas perspectivas no mercado, como é o caso da camomila (Matricaria recutita Linn) e da calêndula (Calendula officinalis).
A Matricaria recutita Linn, de origem europeia, é um membro da família das Asteraceaes, que conhecida por possuir uma variedade de flavonoides ativos, bem como seu óleo volátil, que é rico em terpenoides, como o alfa-bisabolol e o camazuleno. Todos esses constituintes propiciam a atividade anti-inflamatória, antiespasmódica e antibacteriana da camomila (ALBURQUEQUE, 2010).
Já a Calendula officinalis, também pertencente à família das Asteraceae, de origem mediterrânica, sempre foi utilizada para fins anti-inflamatório e cicatrizante. Ultimamente, vários medicamentos a base de extratos desta espécie são comercializados, inclusive o Ministério da Saúde tem demonstrado interesse em introduzir seu uso no Sistema Único de Saúde - SUS (TARTARI, et al., 2010)

CONCLUSÃO

Os fitoterápicos combinados com o laser de baixa intensidade é uma poderosa ferramenta para prevenção e tratamento da mucosite oral que tanto acomete pacientes em tratamento do câncer, que já estão em estado debilitado devido ao tratamento quimioterápico e/ou radioterápico. Em posse dessas informações, ações de intervenção e protocolos adequados para tratamento servirão como base para auxiliar os demais profissionais na terapêutica adequada a estes pacientes.



REFERÊNCIAS


ALBURQUEQUE, A. C. L et al. Efeito antiaderente do extrato da Matricaria recutita Linn. sobre microorganismos do biofilme dental. Rev Odontol UNESP, v. 39, n.13, p. 21-25, 2010.

ANDRADE, T. N. C; FRARE, J. C. Estudo comparativo entre os efeitos de técnicas de terapia manual isoladas e associadas à laserterapia de baixa potência sobre a dor em pacientes com disfunção temporomandibular. RGO, v.56, n.19, p. 287-295, 2008.

BAGNATO, S.V. Os fundamentos da luz laser. Física na Escola, v.02, n.02, p.4-9, 2001.

BRITO, C. A et al. Efeito da clorexidina e do laser de baixa potência na prevenção e no tratamento da mucosite oral. Rev. Odontol, v. 41, n.14, p. 236-241, 2011.

CACCELLI, E. M. N; RAPOPORT, A. Para efeitos das irradiações nas neoplasias de boca e orofaringe. Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.37, n.12, p. 198-201, 2008.

CAETANO, N. L. B et al. Plantas medicinais utilizadas pela população do município de Lagarto-SE, Brasil- ênfase em pacientes oncológicos. Rev. Bras. Med, v.17, 6, p748-756, 2015.

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CAVALCANTI, T.M. et al. Conhecimento das propriedades físicas e da interação do laser com os tecidos biológicos na odontologia. An Bras Dermatol., v. 86, n.05, p.955-960, 2011.

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LADALARDO, T.C. et al. Laser therapy in the treatment of dentine hypersensitivity. Braz Dent J., v.15, n.03, p.144-150, 2004.

LOPES, C. O; MAS, J. R.I; ZÂNGARO, R. A. Prevenção da xerostomia e da mucosite oral induzidas por radioterapia com o uso do laser de baixa potência. Radiol Bras, v.39, n.10, p.31-136, 2006.

OLIVEIRA, F. Q. et al. Espécies vegetais indicadas na odontologia. Braz J Pharmacogn, v.17, 09, p. 466-76, 2007.

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TARTARI, R. F. et al. Perfil Nutricional de Pacientes em Tratamento Quimioterápico em um Ambulatório Especializado em Quimioterapia. Rev. Bras. de Canc, v. 56, n.23, p43-50, 2010.


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