Turma 2016

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sábado, 28 de maio de 2016

COMPARAÇÃO ENTRE AS TÉCNICAS DE ELETROFIAÇÃO E ROTOFIAÇÃO PARA A PRODUÇÃO DE BIOMATERIAIS POLIMÉRICOS


MIRIAN MICHELLE MACHADO DE PAULA

A engenharia de tecidos é um campo interdisciplinar que consiste em desenvolver novos materiais a fim de restaurar, manter ou substituir órgãos e tecidos danificados (1, 2). Diante de um sistema biológico sensível e complexo como o corpo humano, as necessidades de materiais que podem ser usadas como plataformas para engenharia de tecidos são diversificados e extremamente desafiadores onde a escolha do biomaterial é fundamental para permitir que as células se comportem de maneira necessária para formação adequada dos tecidos (1, 3). Portanto, novos materiais que dispõem de melhores propriedades químicas, físicas e mecânicas do que as utilizadas na atualidade são de grande interesse no campo da engenharia de tecidos (3, 4). A FIG. 1 ilustra as vantagens e desvantagens dos principais materiais utilizados como implantes nas ultimas décadas e o mais recente: biomateriais poliméricos (5).



Figura 1. Vantagens e desvantagens dos principais materiais utilizados em implantes.

Vários requisitos têm sido identificados essenciais na produção de plataformas biológicas na engenharia de tecidos onde atualmente direciona seus esforços na obtenção de estruturas tridimensionais (3D), que possam mimetizar o ambiente in vivo, no qual oferecem um efeito significativo na proliferação e diferenciação celular (6, 7).
Estruturas 3D devem apresentar uma porosidade interconectada, no qual irá fornecer um modelo apropriado para fixação e desenvolvimento das células do tecido, pois sua estrutura determina o transporte de nutrientes, metabólitos e moléculas reguladoras para as células e alcançarem uma conformação semelhante à que têm nos órgãos e tecidos do organismo (2, 8).
As nanofibras são um dos materiais que mais se assemelham às estruturas fibrosas da matriz extracelular (MEC) nativa e podem ser sintetizadas a partir de vários tipos de polímeros naturais como proteínas de MEC (colágeno, elastina e fibronectina) e polímeros sintéticos tais como poli ε-caprolactona (PCL) e ácido poli láctico-glicólico (PLGA) e poli acetato de polivinila (PVA) entre outros (9, 10).
Existem várias técnicas para a produção de fibras, entre eles destacam-se a eletrofiação e a rotofiação devido sua versatilidade (11, 12).

Eletrofiação é considerada simples, de baixo custo e versátil gerando estruturas fibrosas em escala nanométrica, que biomimetizam à MEC nativa, o que tem atraído grande atenção na sua aplicabilidade (13, 14).  O sistema de eletrofiação utiliza-se uma fonte de alta tensão, bomba de infusão, uma seringa de vidro, agulha e uma placa coletora. A fonte de alta tensão é responsável por aplicar uma diferença de potencial entre a ponta da agulha metálica e um alvo metálico aterrado para que seja guiado o fluxo do polímero eletrofiado. Resumindo essa técnica utiliza fonte de alta tensão para transformar solução polimérica em forma de fibras (11). A FIG. 2 ilustra o processo de eletrofiação.


Figura 2. Processo de eletrofiação. (Franco et al, 2010 (15))

As fibras começam a se formar quando as forças eletrostáticas superam a tensão superficial da gota da solução, com o aumento da tensão elétrica, a superfície da gota se alonga formando uma estrutura de formato cônico no qual se denomina cone de Taylor (16), como demonstra na FIG 3. Segundo Feng 2002 o alongamento relevante da solução ocorre no início da zona de transição, onde já se encontra pré-estirado em que o diâmetro inicial do jato é reduzido a um diâmetro menor (17). Estima-se que a taxa de estiramento nesta etapa encontra-se na ordem de 102-103 s–1 (18). Salienta-se que a redução do diâmetro das fibras e a rápida evaporação do solvente são favorecidas com o aumento da tensão aplicada no qual intensifica a força de repulsão eletrostática sobre o jato de solução polimérica (19).
Alterações na geometria do jato são decorrentes da elevada tensão longitudinal à qual a solução é submetida e conseqüentemente induz a uma instabilidade do jato devido à flexão (16, 17).  Como resultado de instabilidades viscoelásticas e elétricas, o jato polimérico carregado eletricamente se subdivide em centenas de filamentos ou fibrilas, enquanto o solvente evapora dando origem a mantas fibrosas que se deposita no coletor (eletrodo aterrado) (13, 19).




 Figura 3. Esquema do cone de Taylor. (Adaptadado Costa et al, 2012 (14))

Uma eletrofiação bem sucedida exige diversos parâmetros relacionados com as propriedades físico-químicas dos polímeros e dos solventes, pois influenciam na morfologia das nanofibras. Portanto, os principais parâmetros da solução são: concentração da solução polimérica, tensão superficial, densidade, viscosidade, condutividade elétrica, tipo de solvente e sua velocidade de evaporação. Além disso, os critérios do processo de eletrofiação também interferem na produção e morfologia das fibras, os parâmetros são: tensão aplicada, a vazão, diâmetro da agulha e a distância da ponta da agulha à placa coletora (20-22).
Se estes parâmetros estabelecidos não forem adequados pode ocorrer à formação de contas (“beads”) que são falhas nas estruturas das fibras, uma das características indesejadas na engenharia de tecidos, pois podem apresentar resíduos de solvente sendo altamente tóxico ao meio biológico (14).
Apesar da versatilidade da técnica de eletrofiação, no entanto existem algumas desvantagens: o uso de alta voltagem no qual depende a condutividade da solução limitando a utilização de polímeros e solventes, e baixa taxa de produção (23).
Com a necessidade de superar tais obstáculos, novas técnicas estão sendo desenvolvidas. O novo método da rotofiação foi recentemente desenvolvido e apresentam mecanismo mais simples para a produção de micro e nanofibras, através da rotação em alta velocidade. O sistema de rotofiação consiste: (a) de um reservatório com dois orifícios opostos em suas paredes, acoplado a um motor com velocidade de rotação ajustável (3000 a 30000 rpm); (b) sistema coletor; (c) reservatório com uma seringa e agulha e (d) sistema de alimentação constante da solução polimérica injetada com um sistema de bomba peristáltica instalada (controlada por uma fonte de tensão) (12). FIG 4. Ilustra o processo de rotofiação.



Figura 4. Processo de rotofiação.

As fibras são formadas pela combinação de pressão hidrostática e de pressão centrífuga, ao atingir uma velocidade de rotação elevada à solução polimérica é expulsa através dos orifícios de vazão. A ação centrífuga alonga o jato polimérico em direção a parede do coletor, e devido à inércia da rotação o jato faz uma trajetória curvilínea. A evaporação do solvente ocorre na trajetória dos capilares do orifício ao coletor formando as fibras. A figura 5 representa o sistema ampliado da produção de fibras no processo de rotofiação.




 Figura 5. Sistema de produção de fibras pela técnica de rotofiação, visão ampliada: (i) iniciação do jato, (ii) extensão do jato (iii) evaporação do solvente. (Badrossamay et al, 2010 (12)).

Para uma rotofiação bem sucedida é necessário identificar os parâmetros adequados. Com isso é possível a produção de materiais com diferentes diâmetros e morfologia. Dentre os parâmetros mais importantes estão à escolha do solvente (alta volatilidade); concentração da solução e velocidade de rotação do equipamento. A formação de beads e fibras com diâmetros maiores podem ocorrer por conta os parâmetros escolhidos, por isso a importância de um estudo sistemático de identificação e do controle destes. Por conta da simplicidade a rotofiação é mais atrativo em comparação com outros métodos (12).
Outra vantagem da rotofiação sobre o processo de eletrofiação é a alta taxa de produção em um curto período de tempo, além disso, as fibras produzidas apresentam poros em suas estruturas, esta característica é considerada promissora na aplicabilidade biomédica, pois permite uma melhor interação com organismo biológico. No entanto, à medida que a porosidade aumenta ocorre à diminuição da propriedade mecânica do material o que o desfavorece (12, 24, 25).
A perspectiva de obter melhores condições na produção de fibras poliméricas por uma técnica alternativa, além de amplo conhecimento de suas propriedades pode abrir novas possibilidades encorajando o desenvolvimento de plataformas biológicas na área da engenharia te tecido.



Referências


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