Thaisa Baesso Santos
O carbono é o único material cujo mudanças
simples em suas ligações podem dar origem a diferentes materiais, como por
exemplo, diamante, grafite, fulerenos, nanotubos de carbono e carbono amorfo
(Ferrari e Robertson, 2001). Isso ocorre porque ele pode existir em três diferentes hibridizações (sp3, sp2 e sp) e formar uma grande quantidade de estruturas,
tanto cristalinas quanto amorfas.
É um material abundante na natureza, tornando-o estratégico para estudos e aplicações
tecnológicas,
assim, a pesquisa e o desenvolvimento de materiais a base de carbono com
propriedades
avançadas é necessária para o crescimento das indústrias aeroespaciais,
biomédicas, microeletrônicas, entre outras (Robertson, 2002).
Figura 1 – Desenho
esquemático das hibridizações do carbono
Fonte: Robertson J. Diamond-like
amorphous carbon. Material science and
engeneering.
R 37
(2002) 129-281.
Os carbonos amorfos hidrogenados foram
divididos em quatro categorias: 1) a-C:H – com quantidade de hidrogênio
que varia de 40 a 60% e mais de 70% de ligações sp3, portanto, são macios
e com baixa densidade. Chamados de tipo-polímeros. 2) a-C:H – com quantidade
intermediária de hidrogênio (cerca de 20 a 40%). Possuem menor quantidade de
ligações sp3, maior ligações entre carbono e portanto, melhor
propriedade mecânica. Chamados de tipo-diamante. 3) ta-C:H – com quantidade de
hidrogênio que varia de 25 a 30% e maior quantidade de ligações sp3.
Classificados como tipo-diamante, onde as ligações entre carbono podem aumentar
enquanto a quantidade de hidrogênio continua fixa. 4) a-C:H – com baixa
quantidade de hidrogênio (menor que 20%) e maior quantidade de ligações sp2.
Chamados tipo-grafite (Casiraghi, 2004; Casiraghi, 2005).
O DLC (do inglês, diamond-like carbon) é uma forma metaestável de carbono amorfo
que
contém uma parte significativa
de ligações sp3 (Ferrari e Robertson, 2001;
Robertson, 2002; Casiraghi, 2005) suas propriedades físicas e químicas são próximas às do diamante, tais como, dureza e módulos de elasticidade relativamente elevados, trazendo as vantagens de ser mais facilmente obtido e poder ser depositado em
grandes áreas. Por conta dessas variações na composição e na estrutura, este material reúne propriedades químicas e físicas atraentes, tais como: elevada dureza mecânica, baixo coeficiente de atrito, elevada resistência ao desgaste,
estabilidade química
e transparência óptica. Devido a essas diversas propriedades, esses filmes são utilizados em discos rígidos magnéticos, peças de motores de automóveis
e aviões, revestimentos protetores
em
janelas ópticas e em lentes, dispositivos microeletrônicos, próteses e implantes médicos e odontológicos, revestimento
tribológico em satélites, entre outras
(Robertson, 2002).
Para realizar a caracterização desse tipo de
material, a ferramenta deve ser não destrutiva, rápida, ter uma boa resolução e
dar o máximo de informações estruturais e eletrônicas (Ferrari e Robertson, 2001;
Robertson, 2002). A espectroscopia Raman se encaixa em todos esses aspectos e
portanto, é muito utilizada em diversos campos, desde a física, engenharia,
química e biologia (Casiraghi, 2005; Ferrari, 2007). O efeito Raman foi descoberto em 1928 por Chandrasekhara Venkata
Raman,
na Índia e está relacionado às propriedades
vibracionais dos materiais
através da interação com uma fonte de luz (Raman, 1928). É uma técnica fotônica, amplamente utilizada na caracterização de diferentes tipos
de materiais (orgânicos e inorgânicos),
não necessita de preparo especial das amostras a serem analisadas, na maioria dos casos não é destrutiva
e leva poucos minutos para ser
realizado, o que lhe confere grande vantagem (Ferreira, 2011).
Figura 2 – Desenho
esquemático ilustrando o sistema Raman
Fonte: Pacheco, M. T. T; et al.
Avaliação do ácido láctico intramuscular através da espectroscopia Raman: novas
perspectivas em medicina do esporte. Rev Bras Med
Esporte v.9 n.6 Niterói nov./dez. 2003.
Comumente é realizado nos comprimentos de
onda do espectro azul-verde (488 – 514, 5 nm) (Ferrari, 2002), quando a luz quântica hν0 atinge a superfície, ocorre na maioria das
vezes, um processo de espalhamento elástico, chamado de espalhamento Rayleigh,
porém, pode ocorrer também um processo inelástico, quando a energia vibracional é alterada por hν,
esse processo é chamado de espalhamento Raman e nele, energias quânticas hν0 ± hνs são emitidas. No primeiro caso, a luz emitida não é de interesse dos
pesquisadores, porém, é no processo inelástico que pode-se obter informações
importantes sobre o material. A diferença de energia entre a radiação incidente
e a espalhada é igual a energia com que os átomos do material estão vibrando e
essa frequência faz com que seja possível descobrir como os átomos estão
ligados, por exemplo (Chu e Li, 2005).
Robertson (2002) demonstrou que o espectro Raman
é o espalhamento de luz pela variação de polarizibilidade devido a uma vibração
e pode ser dado por:
Onde, χ = polarizibilidade no vetor de onda k e Q =
amplitude do fóton no vetor de onda q. Esta mudança de polarizabilidade provoca
um espalhamento inelástico de um fóton incidente (ω, k) em fotos espalhados (ω1,
k1), onde ω = frequência de fótons. Em materiais amorfos o espectro
Raman corresponde a densidade de estados vibracionais G (ω) pesada pelo elemento
da matriz apropriada C (ω). Em seguida, tem-se a fórmula Shuker-Gammom para o
espectro Raman:
É
possível classificar o espectro Raman de todos os carbonos desordenados dentro
de um modelo de três estágios de desordem crescente: 1) grafite perfeito para o
grafite nano-cristalino; 2) nano-cristalino grafite para sp2 a-C; 3)
sp2 a-C para sp3 a-C.
Figura 4 – Desenho esquemático da variação do pico G em espectroscopia
Raman e relação I(D)/(I(G) com desordem de grau.
Fonte: Robertson J. Diamond-like amorphous carbon. Material science and
engeneering.
R 37
(2002) 129-281.
Cada material fornece um espectro que é sua
impressão digital, permitindo sua identificação. Os espectros Raman para os
átomos de carbono mostram características comuns em regiões em torno de 800 a
2000 cm-1. Os parâmetros mais interessantes em tais materiais são: a
quantidade de ligações sp3, o agrupamento e a orientação da fase sp2
e a quantidade de hidrogênio presente. Os
chamados picos G e D se posicionam em 1560 e 1360 cm-1 respectivamente
e são característicos de ligações sp2, que conforme mencionado
anteriormente, são característicos de
DLC. Acreditava-se que o pico G ocorria devido as ligações em todos os
pares de átomos em anéis e cadeias e o pico D devido ao modo de respiração dos
anéis. De fato, o pico G dispersa apenas em carbonos desordenados, onde a
dispersão é proporcional ao grau de desordem, pois existe uma variedade de
configurações com diferentes intervalos, porém, pesquisadores afirmam que o pico
D surge a partir de um processo duplo de Raman ressonante, e esse pico está
ligado a densidade vibracional dos estados do grafite nos pontos M e K
(Ferrari, 2007). A condição de dupla ressonância corresponde a k= ½ q,
fornecendo o tamanho do fóton e sua energia (Ferrari e Robertson, 2001).
Há três causas básicas para comportamentos
não usuais de Raman em a-C: 1) ligações conjugadas criam uma longa gama de
polarizibilidade; 2) bandas G e D tem modos de estiramento vinculados; 3) banda
D é uma dupla ressonância. Foi comprovado que I(D)/I(G) é proporcional ao
número de anéis presentes na cadeia, mas essa relação não se estende abaixo de
zero La (Robertson, 2002).
Figura 3 – Espectro Raman para DLC
Fonte: Robertson J. Diamond-like amorphous carbon. Material science and
engeneering.
R 37
(2002) 129-281.Referências
O espectro Raman então, é o gráfico da
intensidade da radiação espalhada em função da energia, que é dada em número de
onda e expressa em cm-1. É uma forma bastante efetiva e
relativamente simples de investigar a estrutura detalhada da ligação de filmes
de carbono (Chu e Li, 2005), trazendo informações químicas e estruturais do material,
sendo sensível a simetria e a vibração estrutural molecular.
O vídeo a seguir mostra um breve resumo sobre o tema:
O vídeo a seguir mostra um breve resumo sobre o tema:
Referências
- Ferrari, A. C; Robertson, J. Resonant Raman spectroscopy of
disordered, amorphous, and diamondlike carbon. Physical Review B, Volume 64 (2001), 075414.
- Robertson J. Diamond-like amorphous carbon. Material science and
engeneering.
R 37
(2002) 129-281.
- Casiraghi, C;
Ferrari, A. C; Robertson, J. Raman spectroscopy of hydrogenated amorphous
carbons. Physical Review B 72, 085401, 2004.
- Casiraghi, C;
Piazza, F; Ferrari. A. C; Grambole, D; Robertson, J. Boning in hydrogenated diamond-like carbon by Raman spectroscopy.
Diamond & Related Materials 14 (2005) 1098– 1102.
- Ferrari, A. C. Raman spectroscopy of graphene and
graphite: Disorder, electron–phonon coupling, doping and nonadiabatic effects.
Solid State Communications 143 (2007) 47–57.
- Raman, C. V; Krishnan, K.
S.
A new type of secondary radiation. Nature. n.121, p.501, 1928).
- Ferreira, E. H. M. Uso da espectroscopia Raman na metrologia de materiais. VI Congresso Brasileiro de Metrologia, 2011, Natal. Proceedings, 2011. p. 83665-1- 83665-6.
- A. C. Ferrari. Determination of bonding in diamond-like carbon
by Raman spectroscopy. Diamond and Related Materials 11 (2002) 1053–1061.
- Chu, P. K; Li, L. Characterization of amorphous and
nanocrystalline carbon films. Materials Chemistry and Physics 96 (2006) 253–277.
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