Turma 2016

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sexta-feira, 27 de maio de 2016

A IMPORTÂNCIA DA ELETROFIAÇÃO PARA A PRODUÇÃO DE NANOMATERIAIS


GEISA NOGUEIRA SALLES

O advento da nanotecnologia, dentre suas diversas funções, tem muito a contribuir com a saúde em uma gama de aspectos. As nanofibras poliméricas, um tipo de fio plástico na espessura da ordem nano ou micrométrica, compostas por polímeros ou compostos poliméricos geralmente eletrofiados, são amplamente utilizadas para regeneração tecidual e implantes [1], devido sua alta similaridade estrutural com a matriz extracelular [2].
Diversas são as técnicas para a extrusão de polímeros para a formação de fibras [3]. Dentre elas, a eletrofiação é uma das mais usuais devido ao controle e alinhamento do diâmetro em escala nanométrica [4].

Esta técnica, descrita e patenteada em 1902 [5, 6] consiste de um eletrodo, uma fonte de alta tensão, uma seringa com agulha e um coletor das fibras. A solução polimérica é depositada na seringa, um eletrodo é conectado à agulha da seringa e outro, à fonte. A solução começa a ser liberada quando a bomba de infusão é ligada. Quando o campo elétrico é alcançado, forma-se um cone (denominado Cone de Taylor) na gota pendente da solução, originando um jato que, em contato com o ar, tem seu solvente evaporado, formando uma nanofibras polimérica, a qual é depositada sobre o coletor como uma manta [7].


Figura 1: Esquema do sistema de eletrofiação

A fim de que as fibras possuam boa qualidade, morfologia e diâmetro adequados é essencial produzi-las seguindo uma série de parâmetros [8]:
- Padronização das propriedades intrínsecas: tipo de polímero, viscosidade, concentração do polímero, condutividade elétrica, tensão superficial.
- Padronização das condições operacionais: Tensão, temperatura e umidade relativa do ar, distância entre a seringa e o coletor, velocidade de liberação do polímero pela bomba de infusão.
A não padronização destes fatores acima mencionados pode levar à formação de beads, que são ‘defeitos’ nas fibras formadas. Estes beads podem representar acúmulo de solventes e resíduos nas fibras, o que pode ser altamente tóxico quando em contato com o organismo.


Figura 2: Imagem obtida por microscopia eletrônica de varredura (MEV) de nanofibras de Poli (ácido lático). A seta branca indica a formação de bead.

Há ainda diversas maneiras de melhorar a eletrofiação, de acordo com o objetivo de estudo, ou seja, pode-se incorporar nanopartículas, fármacos ou demais estruturas à fibra produzida. Além disso, é possível produzir fibras core-shell, com núcleo e casca de diferentes polímeros, pelo processo de eletrofiação coaxial. 


Figura 3: Esquema do processo de eletrofiação coaxial.

Dentre as principais aplicações das nanofibras poliméricas, destaca-se a regeneração tecidual e óssea [9], devido à estruturação das fibras ser altamente similar à matriz extracelular, o que permite uma boa sustentação para células, facilitando a regeneração. Além disso, as fibras poliméricas são de grande utilidade na reparação de traumas de pele [10], produção sintética de veias e artérias sanguíneas [11], regeneração do sistema nervoso [12].

Atualmente, além de seu grande uso em regeneração tecidual, estudos têm sido voltados à incorporação de medicamentos às nanofibras compostas por polímeros biodegradáveis, devido, entre outros fatores, à sua ampla área superficial [13]. Assim, quanto maior a área superficial da manta de nanofibras, maior a quantidade de fármaco exposta no organismo e maior a quantidade de fármaco liberado pelas membranas bioabsorvíveis, em um curto período de tempo. Deste modo, é possível melhorar a terapêutica de um fármaco, otimizando sua bioatividade, solubilidade, liberação e tempo de retenção [14, 15].

Deste modo, as nanofibras para liberação de fármacos podem ser utilizadas como carreadoras de medicamentos [9], podendo direcioná-los à área lesionada desejada [16]. Dentre esta área de aplicação, utilizam-se tais fibras para carrear antibióticos [17] e medicação tópica [18]. A grande vantagem das fibras para liberação de fármacos se dá pela possibilidade de controlar as doses de medicação a ser liberada, por um período prolongado, assim a droga se mantém em constante circulação pelo organismo, tendo seus efeitos potencializados. Além disso, o fármaco estando encapsulado nas fibras se mantém íntegro até atingir a área desejada.

Os materiais eletrofiados apresentam uma diversidade de aplicações biomédicas e alto nível de biossegurança, uma vez que são biocompatíveis e biodegradáveis, o que é de grande importância no desenvolvimento de biomateriais [19]. O desenvolvimento de nanofibras por eletrofiação é de baixo custo e fácil manuseio, o que faz desta técnica uma importante candidata para a fabricação de nanoestruturas. 

Por fim, a técnica de eletrofiação leva a produção de materiais poliméricos em escala nano e ultrafina, com uma gama de aplicações, sendo suas principais vantagens a simulação da matriz extracelular e a incorporação de fármacos em sua base estrutural. O grande desafio é padronizar seus efeitos terapêuticos com precisão a fim de produzir fibras em escala industrial e comercial. Assim, o advento da nanotecnologia associada à produção de fibras tem muito a contribuir com o futuro dos biomateriais médicos.

O vídeo a seguir aborda alguns aspectos das nanofibras poliméricas e demais nanomateriais produzidos para diagnóstico de patologias cerebrais: 






Referências

[7] Guerrini LM, Branciforti MC, Canova T, Bretas RES. Electrospinning and characterization of polyamide 66 nanofibers with different molecular weights. Materials Research 2009;12:181-90.


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