Raimundo
Nonato Silva Gomes
Tanto o esmalte quanto a dentina podem sofrer um processo de dissolução
das estruturas mineralizadas, a erosão dental, que pode ocorrer devido ao contato
com ácidos que são introduzidos na cavidade oral, através de fontes intrínsecas
e/ou extrínsecas. Dentre as principais causas intrínsecas estão as doenças que
causam vômitos crônicos e a regurgitação gastresofágica. Já os fatores
extrínsecos incluem: dieta (alimentos e bebidas ácidas), meio ambiente
(piscinas cloradas, por exemplo), medicamentos e estilo de vida (hábitos e
condição socioeconômica) (VASCONCELOS; VIEIRA; COLARES, 2010; HASSELKVISTA;
JOHANSSON; JOHANSSON, 2016).
A erosão dental descreve o resultado físico de uma perda patológica,
crônica, localizada e assintomática dos tecidos dentais pelo ataque químico
e/ou físico da superfície do dente por ácidos e/ou quelantes, sem o
envolvimento de bactérias. O ácido de origem não bacteriana é, provavelmente, a
causa da erosão, levando à desmineralização da matriz inorgânica do dente
(CATELAN; GUEDES; SANTOS, 2010).
Estudos in vitro mostram que, quando o esmalte e/ou dentina são
expostos a uma solução com pH igual ou inferior a 4,5 a superfície do esmalte/dentina
são alteradas, formando uma lesão macro e microscopicamente semelhante à erosão
que se desenvolve na cavidade bucal. Esta situação pode ocorrer clinicamente
quando os níveis de pH salivar são inferiores a 4,5 ou por meio do consumo de
frutas, bebidas e medicamentos ácidos. A aparência macroscópica da área da
superfície dental exposta com frequência a ácidos torna-se esbranquiçada,
cretácea e opaca (SILVA; GINJEIRA, 2011).
Quanto ao potencial erosivo dos medicamentos, observa-se que o uso contínuo
de medicamentos que possuem uma natureza ácida e que entram em contato direto
com os dentes tem sido também identificado como um fator de risco extrínseco à
erosão dentária, não somente em adultos, como também em crianças e adolescentes
(THOMAS; VIVEKANANDA; YADAV, 2015).
Assim, medicamentos utilizados em algumas doenças respiratórias como
asma, doença pulmonar obstrutiva crônica, insuficiência respiratória aguda,
dentre outras, têm sido associados à erosão dental. Valinoti et al. (2008)
realizaram estudo em 30 amostras de dentes humano (esmalte) com a aplicação de dois
medicamentos (Dimetapp® e Claritin®) utilizados em acometimentos respiratórios
onde foi demonstrado o potencial erosivo desses medicamentos, uma vez que ambas
as drogas possuíam um pH inferior a 3,0, o que as colocaram como um agente
potencialmente erosivo, tanto para o esmalte quanto para a dentina.
Dentre os medicamentos mais comumente utilizados nas doenças
respiratórias destacam-se os expectorantes e broncodilatadores. Os expectorantes
são responsáveis pela redução da viscosidade das secreções pulmonares.
Portanto, esta classe de medicamentos é utilizada com a finalidade de aumentar
a quantidade de secreções pulmonares e reduzir a viscosidade dessas secreções,
promovendo, consequentemente, a remoção destas das vias aéreas (OLSSON et al.,
2011).
Já os broncodilatadores agem através de seu efeito relaxante sobre a
musculatura lisa dos pulmões. Eles pertencem a três classes farmacológicas:
agonistas dos receptores β2-adrenérgicos, metilxantinas e antagonistas
muscarínicos (ou anticolinérgicos inalatórios). Os broncodilatadores constituem
o pilar terapêutico do tratamento sintomático da asma, uma vez que um sintoma
muito comum das doenças respiratórias é a dispneia (CAMPOS; CAMARGOS, 2012).
Devido à frequência de processos erosivos sofridos pelo esmalte e dentina
a remineralização é de grande relevância na terapêutica deste problema. O
processo de remineralização pode ser realizado por diversas técnicas (aplicação
tópica de flúor e uso de cremes dentais com flúor e com agentes terapêuticos) (SILVA;
GINJEIRA, 2011).
Assim, a remineralização pode ser definida como qualquer ganho pela
superfície dental que ocorra através da deposição de minerais na porção
desmineralizada dos tecidos duros. Ela não somente interrompe o processo de
desmineralização, como também repara as lesões cariosas incipientes. Nas áreas
remineralizadas do esmalte, observa-se uma maior resistência a subsequente
desmineralização do que no tecido original. O flúor é um importante agente
remineralizador utilizado na rotina odontológica, cuja ação remineralizadora
ocasiona o aumento de volume mineral nas lesões cariosas (RODRIGUES et al.,
2010).
Na situação de um processo erosivo na dentina, deve-se considerar a
diferença na composição desta, com maior porcentagem de componentes orgânicos.
Ganss et al., 2001 demonstraram uma redução de ~10% na perda mineral após o uso
de dentifrício fluoretado e redução de 20% após intensa fluoretação
(dentifrício, flúor em solução e gel), que foi suficientemente eficaz para
inibir completamente a progressão da erosão após um período inicial de
desmineralização. Este resultado provavelmente está relacionado com o
desenvolvimento da camada superficial desmineralizada rica em colágeno e esta
atua como uma membrana de tamponamento que protege as camadas mais profundas da
dentina contra valores de pH baixos. Na presença de quantidades elevadas de
fluoreto a capacidade de tamponamento do material orgânico parece ser
suficiente para reduzir ou inibir a desmineralização (GANSS et al., 2004).
Diante do exposto, a existência da erosão dental com elevada incidência,
comprovada por estudos de Yan-Fang (2011) e Amaral et al. (2012) tem se
configurado como um grave problema de saúde pública e tem despertado grande
interesse em pesquisadores. Assim, o aprofundamento de pesquisas nesta área de
conhecimento irá possibilitar o desenvolvimento de medidas diversas (prevenção
e tratamento) a este grave problema de saúde bucal.
No que refere às doenças respiratórias, a Organização Mundial de Saúde
(OMS, 2008) afirma que centenas de milhões de pessoas sofrem de doenças
respiratórias, 300 milhões têm asma, 210 milhões DPOC e 3 milhões têm outras
doenças respiratórias crônicas. Em 2005, 250.000 pessoas morreram de asma e 3 milhões
de Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC). Estima-se que em 2030 a DPOC se
torne a 3ª causa de morte em todo o mundo. A OMS e o Banco Mundial estimam que
quatro milhões de pessoas com doenças respiratórias crônicas podem ter morrido
prematuramente e, as projeções são de aumento considerável do número de mortes
no futuro.
O dente é recoberto pelo esmalte que é por uma camada externa de 2 mm,
formada da porção mineral de hidroxiapatita [Ca5(PO4)3(OH)]
que corresponde a 96,0% e os 4,0% restantes de proteínas e água; possui uma
estrutura prismática cristalina capaz de refletir, absorver e transmitir a luz
através de sua estrutura, resultando em características particulares,
observadas nos dentes naturais, como a translucidez, o brilho, a opalescência e
a fluorescência (BARATIERI et al., 2008).
Quanto à dentina, trata-se da massa principal do dente, dando a forma
geral ao mesmo. É dura como osso, porém permeável devido aos microtúbulos. É
uma extensão fisiológica da polpa. Aproximadamente 35,0% da dentina é material
orgânico, composta de colágeno e substância orgânica fundamental de
mucupolissacarídeos (proteoglicanos e glicosaminoglicanos). Os demais 65,0% são
inorgânicos – hidroxiapatita. Assim, a estimativa da densidade canalicular
varia de 40 a 70 mil canalículos por milímetro quadrado, dependendo da
distância que se encontra em relação à polpa; quanto maior a proximidade com a
polpa, maior a concentração destes canalículos (DELFINO et al., 2010).
O cemento é um tecido conjuntivo mineralizado e avascular que deriva do
ectomesênquima do saco folicular. À semelhança do esmalte que envolve a dentina
ao nível da coroa, o cemento recobre-a em nível da raiz. Estruturalmente, a sua
composição é semelhante à do osso, com cerca de 50% de hidroxiapatita (parte inorgânica)
e o restante é de material orgânico, principalmente colagéno de tipo I. Ele
permite a inserção de fibras do ligamento periodontal. Nos dentes jovens, a
camada de cemento é reduzida, aumentando gradualmente de espessura com a idade.
A menor espessura de cemento encontra-se em nível do colo dentário, fazendo
nessa zona a sua junção com o esmalte, de diversas formas (FERREIRA; CARRILHO;
LEITÃO, 2006; LIMA, 2010).
A erosão dentária é uma lesão causada pela exposição da estrutura dental
à ação de ácidos de origem não bacteriana, a qual tem recebido cada vez mais
atenção de pesquisadores e clínicos por sua crescente prevalência e detecção
clínica (KREULEN et al., 2010; HUYSMANS; CHEW; ELLWOOD, 2011; COMAR et al.,
2013).
A erosão dentária vem ganhando importância como um problema de maior
reconhecimento por parte da comunidade científica e clínica, em decorrência do
aumento da incidência que está sendo observada em crianças, adolescentes e
adultos. Sendo caracterizada pela perda cumulativa do tecido dentário, que pode
ser agravada com o tempo, devido à interação com outros tipos de desgaste. O
desgaste erosivo severo pode causar perda funcional e estética. A erosão pode
estar associada com hipersensibilidade, alteração na oclusão dentária e
exposição da polpa (SALAS et al., 2015).
As lesões por erosão, decorrentes da ingestão produtos ácidos,
localizam-se com maior frequência por vestibular no terço cervical dos dentes
anteriores, apesar de existir a possibilidade de ocorrerem em qualquer região
do elemento dental. A área cervical é normalmente a mais afetada porque a
autolimpeza é menor do que em outras regiões e com isso o ácido permanece neste
local por um período mais prolongado (RANDAZZO; AMORMINO; SANTIAGO, 2006; LIMA,
2010).
A lesão de erosão é caracterizada pela desmineralização da camada
superficial do esmalte com a subsequente perda irreversível da estrutura dental
a partir do contato frequente com ácidos. Íons de cálcio e fosfato são
removidos, deixando espaços vazios, micrométricos, nos tecidos duros do dente.
Isso gera o aparecimento de uma camada superficial fragilizada e
desmineralizada (LUSSI et al., 2011).
Os dentes sofrem contínuos processos de desmineralização seguida por
remineralização e restabelecimento da integridade do esmalte dentário. Esse
fenômeno está representado pela equação da reação reversível de dissociação da
hidroxiapatita na saliva ilustrada na Figura 1.
Figura 1. Processo de
des-remineralalização.
A erosão dentária é muitas vezes descrita apenas como um fenômeno de
superfície, ao contrário de cárie onde foi comprovado que os efeitos
destrutivos envolvem tanto a superfície quanto a região de subsuperfície. No
entanto, além da remoção da superfície, a erosão apresenta uma dissolução de
minerais na camada desmineralizada - abaixo da superfície (LUSSI; CARVALHO,
2014).
A erosão dental apresenta duas fases distintas recentemente classificadas
como "erosão" (Fase inicial), em que existe apenas uma
desmineralização do esmalte sem perda estrutura dentária (passível de
remineralização) e "desgaste dentário erosivo" (Fase avançada), com
perda de superfície dentária devido aos sucessivos ataques erosivos com uma
superfície remanescente enfraquecida (SHELLIS et al., 2011). A camada
remanescente alterada apresenta baixa resistência a desafios erosivos
adicionais, bem como ao desgaste mecânico por forças, tais como a abrasão e
desgaste (ATTIN et al., 2001; ADDY; HUNTER, 2003; RIOS et al., 2006).
O padrão característico da cárie é diferente da erosão, pois consiste em
uma desmineralização superficial causada pela passagem do ácido proveniente do
metabolismo bacteriano através de falhas ou porosidades do esmalte. Quando
atingem a dentina, rica em apatita carbonatada e, portanto, mais solúvel,
inicia-se o processo de desmineralização mais amplo (GARONE FILHO; SILVA,
2008).
A lesão por erosão é principalmente um fenômeno de superfície causado por
ataques frequentes de ácidos, muitas vezes, fortes e com baixo pH, como é o
caso dos ácidos cítrico e clorídrico. Pode ser encarada como um fenômeno
irreversível de perda de estrutura dental, porque, nesses casos, a estrutura
cristalina é completamente destruída, e o esmalte não possui a capacidade de se
regenerar. Porém, isso não é uma regra, pois nos estágios iniciais o fenômeno é
reversível devido à possibilidade de remineralização e endurecimento por
crescimento dos cristais que foram parcialmente desmineralizados (GARONE FILHO;
SILVA, 2008). A severidade das lesões pode variar, apresentando mudanças nas
características superficiais do esmalte, perda de superfície do esmalte até a
exposição de dentina (BONATO et al., 2015).
A Espectroscopia Raman, pode ser definida como uma técnica que estuda a
interação da radiação eletromagnética com a matéria, tendo como objetivo
conhecer os níveis de energia de átomos e moléculas (SOUZA, 2009). É uma
técnica com base na irradiação do tecido biológico por um laser. A energia
espalhada inelasticamente pela amostra fornece informações sobre as ligações
químicas, podendo determinar o aumento ou decréscimo da quantidade de um dado
grupo molecular. Estes dados podem ser monitorados em tempo real, sem nenhuma
degradação da amostra. De fato, a espectroscopia Raman tem se mostrado uma
ferramenta bastante versátil no diagnóstico de doenças (OLIVEIRA et al., 2012).
O espalhamento inelástico pode ser subdividido em dois tipos: Stokes e
anti-Stokes. O efeito Stokes ocorre quando as moléculas recebem a energia no
seu estado fundamental, e o anti-stoke a molécula já está em estado excitado.
Efeito Raman também gera três modelos vibracionais nas moléculas: bend,symmetric
or asymmetric strech; Sendo o número de modelos vibracionais traduzidos pelas
seguintes fórmulas matemáticas:3n-6 para moléculas não lineares, por exemplo:
água (H2O) e 3n-5 para moléculas lineares, por exemplo gás carbônico (CO2),
sendo n representa número de átomos
da molécula (CHOU, CHEN, 1977).
Um feixe de radiação laser de baixa potência é usado para iluminar
pequenas áreas do objeto de interesse e ao incidir sobre a área definida, é
espalhado em todas as direções, sendo que uma pequena parcela dessa radiação é
espalhada inelasticamente, isto é, com frequência (ou comprimento de onda)
diferente da incidente (E = hν ou E = h.c.λ-1) (CHOU, CHEN, 1977).
A espectroscopia Raman vem sendo utilizada para a caracterização de
materiais pois permite identificar estrutura, a conformação molecular e o grau
de desordem de materiais em geral. Esta técnica é muito usada devido à
facilidade de manipulação, preparação e porque promove uma análise rápida e
eficaz das amostras (MANDAIR; MORRIS, 2015).
Essa técnica tem sido utilizada para diversos estudos preliminares (MANUEL
et al., 2008; AMARAL et al., 2012; SOARES et al., 2012) no diagnóstico de
erosão dental e definição da estrutura e composição dos elementos dentais.
Tendo em vista que os espectros Raman do dente possibilitam a visualização de
bandas vibracionais importantes relacionadas à sua composição química. Algumas
das principais bandas Raman relativas aos componentes da estrutura dental entre
~430 a ~1450 cm-1 (CARVALHO et al., 2013). A Figura 2 demonstra
espectros de amostras de esmalte dentário de três grupos diferentes (linha
pontilhada – grupo controle; linha contínua – grupos tratamento; e linha grossa
– grupo exposto a processo erosivo).
Figura 2. Espectro de esmalte dentário.
Fonte: Ana et al., 2014.
Estudo realizado por Braga et al. (2011) demonstraram as diferenças nos
espectros vibracionais da camada de esmalte exposta ao processo erosivo
ocasionado por suco de laranja e suco gástrico, o que demonstra uma das
aplicações da técnica na avaliação do processo erosivo. Em contrataste com
outros estudos, a técnica empregada neste estudo possibilitou a confirmação de
que o suco gástrico possui um potencial erosivo acima do suco de laranja, uma
vez que a média da concentração de PO4-3, CO3-2
e colágeno nas amostras expostas ao suco gástrico foram inferiores às do suco
de laranja.
A microfluorescência de raios X por energia dispersiva (µ-EDXRF) é uma
técnica analítica multielementar e não destrutiva que permite uma avaliação
tanto qualitativa (identificação dos elementos presentes numa amostra) como
também quantitativa, permitindo estabelecer a proporção em que cada elemento se
encontra presente na estrutura química. Permite, ainda, a comparação entre as
leituras inicial, denominada controle (antes do tratamento), e final (após o tratamento)
para todos os grupos (SOARES et al., 2012).
A técnica é baseada na medida da intensidade (número de fótons coletados
por unidade de tempo) dos raios-x característicos emitidos pelos elementos que
constituem a amostra quando devidamente excitada. A microanálise eletrônica, é
mais comumente efetuada por microscópios eletrônicos de transmissão e
varredura, é baseada na medida de raios-x característico emitidos de uma região
microscópica da amostra bombardeada por um feixe de elétrons. As linhas de
raios-x característicos são específicas do número atômico da amostra e seus
comprimentos de onda (ou sua energia), e podem identificar o elemento que está
emitindo a radiação (SILVA, 2009).
De modo resumido, a análise por µ-EDXRF consiste de três fases: excitação
dos elementos que constituem a amostra; dispersão dos raios X emitidos pela
amostra e detecção dos raios X emitidos (GREGÓRIO, 2001). A intensidade do pico
característico emitida pelos componentes da amostra está relacionada com a
concentração de cada elemento presente na mesma. Deste modo, uma avaliação
quantitativa por comparação pode ser conduzida para determinar a relação dos
teores dos elementos cálcio (Ca) e fósforo (P) presentes no composto mineral
dos tecidos dentários.
Na avaliação da estrutura dental, a microfluorescência de raio-X por
energia dispersiva - µ-EDXRF possibilita uma análise semi-quantitativa dos seus
componentes inorgânicos, dentre eles: o cálcio e o fósforo. Estudo in vitro de Mantovani (2011) demonstrou
a acurácia da técnica na análise do percentil de cálcio e fósforo na dentina.
Por meio da microfluorescência de raio-X por energia dispersiva foi possível
determinar a diferença dos minerais nos diferentes substratos do dente, além do
estabelecimento da relação cálcio/fósforo na dentina.
O processo erosivo provocado por sucos e refrigerantes em dentes bovinos
e posteriormente remineralizados com flúor gel e vernizes, foi avaliado no
estudo de Soares e Carvalho Filho (2015), por meio das técnicas microfluorescência
de raios-X por energia dispersiva, microscopia eletrônica de varredura e
rugosidade de superfície. No estudo, foram avaliados dois agentes
potencialmente erosivos, a Pepsi Twistâ e um suco de
laranja industrializado, ambos com baixo pH. A pesquisa demonstrou que após a
exposição ao refrigerante houve maior redução na espessura da camada de esmalte
do dente bovino, quando comparado ao suco de laranja. Já na avaliação do processo
de remineralização observou-se que foi menos eficaz nas amostras expostas à
Pepsi Twistâ,
confirmando o potencial erosivo do refrigerante.
Já em um estudo abordando a erosão química provocada em materiais
restauradores também foi possível por meio de técnicas de microanálise
(espectroscopia de raios-X por dispersão em energia e microscopia eletrônica de
varredura) a avaliação tanto do conteúdo inorgânico do esmalte dental quanto do
material restaurador utilizado. Na investigação, foram utilizadas 50 amostras
de dentes bovinos e, posteriormente divididas em cinco grupos, dois grupos
foram exposto a processos erosivos, confirmado pelas referidas técnicas de
microanálise (SOARES et al., 2012). Verificou-se que o esmalte nas margens das
restaurações de cimento de ionômero de vidro apresentou níveis maiores de
cálcio após a erosão associada à enxaguatórios bucais contendo flúor do que nos
outros grupos.
O Microscópio Eletrônico de
Varredura (MEV) é um dos mais versáteis instrumentos disponíveis para a
observação e análise das características microestruturais de materiais sólidos.
O princípio de um microscópio eletrônico de varredura consiste em utilizar um
feixe de elétrons de pequeno diâmetro para explorar a superfície da amostra,
ponto a ponto, por linhas sucessivas e transmitir o sinal do detector a uma
tela catódica cuja varredura está perfeitamente sincronizada com aquela do
feixe incidente. Por um sistema de bobinas de deflexão, o feixe pode ser guiado
de modo a varrer a superfície da amostra segundo uma malha retangular (ALVES et
al., 2015). Nesse equipamento um filamento aquecido bombardeia a amostra com
elétrons que são absorvidos e refletidos. Elétrons secundários, decorrentes da
própria amostra são emitidos e utilizados para produzir uma imagem morfológica
do material. A Figura 3 demonstra análises de amostra de esmalte dentário
expostos a processos erosivos.
Figura 3. Esmalte dentário exposto a
processos erosivos.
Fonte: Soares; Carvalho Filho,
2015.
Nesta técnica analítica é necessário
o uso de padrões primários e, em alguns casos, de padrões secundários para
quantificar, por interpolação os teores composicionais em uma determinada
amostra (SILVA, 2009).
Uma das maiores vantagens do uso da
microscopia eletrônica de varredura na avaliação do processo erosivo na
estrutura dental é a obtenção de imagens em alta resolução e de excelente
qualidade. Estudo desenvolvido por Moreira et al. (2012), utilizando a referida
técnica, possibilitou a identificação do processo erosivo ocorrido nos dentes
por compostos ácidos que atuavam como agentes etiológicos da erosão. Soares e
Carvalho Filho (2015), em análise de 63 amostras de dentes bovinos, na
superfície do esmalte, demonstrou por meio de microscopia eletrônica de
varredura o efeito remineralizador do flúor, uma vez que após a exposição a
processos de des-remineralização a técnica de análise possibilitou a
caracterização dos aspectos morfológicos causados pela erosão na superfície do
esmalte e dos efeitos dos diferentes tratamentos com flúor.
Portanto, pode-se observar que uma
abordagem variada na análise das amostras pode garantir uma maior fidedignidade
dos dados e facilitar o seu processo de interpretação, uma vez que a utilização
de várias técnicas de análise possibilita a diversos públicos o entendimento
dos resultados apresentados.
Vídeo:
Vídeo:
REFERÊNCIAS
ADDY, M.; HUNTER, M. L. Can tooth brushing damage your health? Effects
on oral and dental tissues. Int Dent J. v. 53, n. 3, p. 177-1786, 2003.
ALVES, M. A. L. et al. Marginal vertical misft at zirconia, titanium,
and Ni-Cr prosthetic implant/abutment interfaces: a scanning electron
microscopy study. Implant. News. v. 12, n. 5, p. 611-617, 2015.
AMARAL, S. M. et. Lesões não cariosas: o desafio do diagnóstico
multidisciplinar. Arq. Int. Otorrinolaringol., v. 16, n. 1, p. 96-102, 2012.
ATTIN, T. et al. In situ evaluation of different remineralization periods to decrease brushing abrasion of demineralized enamel. Caries Res., v. 35, n. 3, p. 216-222, 2001. BARATIERI, L. N. et al. Soluções Clínicas: fundamentos e técnicas. 1ª. ed. Florinópolis: Ponto, 2008.
BONATO, L. L. et al. Análise Perfilométrica do Padrão de Desgaste
Dentário de Indivíduos Bruxômanos e sua Inter-Relação com a Erosão Dentária: Um
Estudo Longitudinal. Saúde e Pesq., v. 8, n. 2, p. 285-295, 2015.
BRAGA, S. R. M. et al. Morphological and mineral analysis of dental enamel after erosive challenge in gastric juice and orange juice. Microsc. Res. Tech., v. 74, n. 12, p. 1083-1087, 2011. CAMPOS, H. S.; CAMARGOS, P. A. M. Broncodilatadores. Pulmao RJ, v. 21, n. 2, p. 60-64, 2012.
CARVALHO, F. B. et al. Use of Laser Fluorescence in Dental Caries
Diagnosis: a Fluorescence-x Biomolecular Vibrational Spectroscopic Comparative
Study. Braz. Dental Jour., v. 24, n. 1, p. 59-63, 2013.
CATELAN, A.; GUEDES, A. P. A.; SANTOS, P. H. Erosão dental e suas
implicações sobre a saúde bucal. Rev. Fac. de Odontologia, v. 15, n. 1, p.
83-86, 2010.
CHOU, K.; CHEN, N. As funções biológicas de fônons de baixa frequência. Scientia Sinica, v. 20, n. 1, p. 447-457, 1977.
COMAR, L. P. et al. Dental erosion: an overview on definition,
prevalence, diagnosis and therapy. Braz Dent Sci., v. 16, n. 1, p. 6-17, 2013.
DELFINO, C. S. et al. Uso de novos materiais para o capeamento pulpar (hidroxiapatita - HAp e fosfato tricálcico - β-TCP). Cerâmica, v. 56, n. 1, p. 381-388, 2010.
FERREIRA, M. M.; CARRILHO, E. V. P; LEITÃO J. Mecanismo e Classificação
das Reabsorções Radiculares. Rev. Port de Estomatol. Med. Dent. Cir.
Maxilofac., v. 47, n. 4, p. 241-248, 2006.
GANSS, C. et al. Effects of two fluoridation measures on erosion
progression in human enamel and dentine in situ. Caries Res., v. 38, n. 1, p.
561–566, 2004.
GARONE FILHO, W.; SILVA, V. Lesões não cariosas: o novo desafio da
odontologia. 1ª ed. São Paulo: Santos, 2008.
GREGÓRIO, M. A. Especiação e determinação de Arsênio e Selênio em amostras de águas naturais por fluorescência de raios X dispersiva em energia. 2001. 80 f. Dissertação (Mestrado em Recursos Hídricos) – Faculdade de Engenharia Civil, Universidade Estadual de Campinas, Campinas/SP, 2001.
HASSELKVIST, A.; JOHANSSONB, A.; JOHANSSON, A. A 4 year prospective
longitudinal study of progression of dental erosion associated to lifestyle in
13-14 year-old Swedish adolescentes. J. of Dentistry, v. 47, n. 4, p. 55-62,
2016.
HUYSMANS, M. C.; CHEW, H. P.; ELLWOOD, R. P. Clinical studies of dental erosion and erosive wear. Caries Res., v. 45, n. (Suppl 1), p. 60-68, 2011.
KREULEN, C. M. et al. Systematic review of the prevalence of tooth wear
in children and adolescents. Caries Res., v. 44, n. 2, p. 151-159, 2010.
LIMA, L. R. Estudo dos efeitos da erosão ácida em restaurações radiculares por fluorescência de raio-x. 2010. 61 f. Dissertação (Mestrado Profissional em Bioengenharia) - Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento, Universidade do Vale do Paraíba, São José dos Campos/SP, 2010. LUSSI, A. et al. Dental Erosion – An Overview with Emphasis on Chemical and Histopathological Aspects. Caries Res., v. 45, n. (suppl 1), p. 2–12, 2011. LUSSI, A. et al. Dental erosion an overview with emphasis on chemical and histopathological aspects. Caries Res., v. 45, n. Supl 1, p. 2-12, 2011. LUSSI, A.; CARVALHO, T. S. Erosive tooth wear: a multifactorial condition of growing concern and increasing knowledge. Monogr Oral Sci., v. 25, n. 1, p. 1-15, 2014.
MANDAIR, G. S.; MORRIS, M. D. Contributions of Raman spectroscopy to the
understanding of bone strength. BoneKEy Reports, v. 4, n. 620, p. 1-8, 2015.
MANTOVANI, C. P. T. Análise das propriedades físicas e químicas da dentina de dentes decíduos e permanentes – estudo in vitro. 2011. 76 f. Tese (Doutorado em Ciências) - Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto/SP, 2011. MANUEL, S. T. et al. Asthma and dental erosion. Kathmandu University Medical Journal, v. 6, n. 3, p. 370-374, 2008. MOREIRA, M. S. C. et al. Avaliação Microestrutural do Esmalte Bovino Exposto a Bebidas Lácteas e Propriedades Físico Químicas. Pesq Bras Odontoped Clin Integr. v. 12, n. 2, p. 161-167, 2012.
OLIVEIRA, P. K. et al. Análise da composição bioquímica da pele por
espectroscopia Raman. Rev Bras. Eng. Biom., v. 28, n. 3, p.278-287, 2012.
OLSSON, B. et al. Pulmonary Drug Metabolism, Clearance, and Absorption.
Controlled Pulmonary Drug Delivery, v. 87, n. 1, p. 21-50, 2011.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Estatísticas de Saúde Mundiais.
Geneva, 2008.
RANDAZZO, A. R.; AMORMINO, S. A. F.; SANTIAGO, M. O. Erosão dentária por
influência da dieta: Revisão da literatura e caso clínico. Arq. Bras. de
Odontologia, v. 2, n. 1, p. 10-16, 2006.
RIOS, D. et al. Effect of salivary stimulation on erosion of human and bovine enamel subjected or not to subsequent abrasion: an in situ/ex vivo study. Caries Res., v. 40, n. 3, p. 218-223, 2006. RODRIGUEs, E. et al. Enamel Remineralization by Fluoride-Releasing Materials: Proposal of a pH-Cycling Model. Braz. Dent. J., v. 21, n. 5, p. 446-451, 2010.
SALAS, M. M. S. et al. Erosão dentária na dentição permanente:
epidemiologia e diagnóstico. Rev. Fac. Odont., v. 20, n. 1, p. 126-134, 2015.
SILVA, F. M,; GINJEIRA, A. Hipersensibilidade dentinária: etiologia e
prevenção. Rev. Port. Estomatol. Med. Dent. Cir. Maxilofac., v. 52, n. 1, p.
217-224, 2011.
SILVA, P. R. F. Avaliação dos efeitos da erosão ácida no esmalte dental
e em materiais restauradores por microfluorescência de raios-x. 2009. 65 f.
Dissertação (Engenharia Biomédica) - Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento,
Universidade do Vale do Paraíba, São José dos Campos/SP, 2009.
SOARES, L. E. S. et al. Erosion effects on chemical composition and
morphology of dental materials and root dentin. Micr. Res. Tech., v. 75, n. 6,
p. 703–710, 2012.
SOARES, L. E. S.; CARVALHO FILHO A. C.B. Protective Effect of Fluoride
Varnish and Fluoride Gel on Enamel Erosion: Roughness, SEM-EDS, and m-EDXRF
Studies. Microsc. Res. Tech., v. 78, n. 1, p. 240–248, 2015.
SOUZA, R. A. Analise do tecido ósseo sadio e osteoporódico por meio da espectroscopia raman: um estudo ex vivo em modelo animal. 2009. 70 f. Tese (Engenharia Biomédica) - Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento, Universidade do Vale do Paraíba, São José dos Campos/SP, 2009.
THOMAS, M. S.; VIVEKANANDA, A. R. P.; YADAV, A. Medication-Related
Dental Erosion: A Review. Compend. Contin. Educ. Dent., v. 36, n. 9, p.
662-666, 2015.
VALINOTI, A. C. et al. Surface degradation of composite resins by acidic medicines and ph-cycling. J. Appl. Oral Sci., v. 16, n. 4, p. 257-265, 2008. VASCONCELOS, F. M. N.; VIEIRA, S. C. M.; COLARES, V. Erosão Dental: Diagnóstico, Prevenção e Tratamento no Âmbito da Saúde Bucal. Rev. Bras. de Ciênc. da Saúde, v. 14, n. 1, p. 59-64, 2010.
YAN-FANG-REN, D. D. S. Dental Erosion: Etiology, Diagnosis and
Prevention. RDH Mag., v. 33, n. 1, p. 76-84, 2011.
|