Ewerson Shinozaki
Um dos grandes avanços deste século foi o
desenvolvimento dos aparelhos laser. A aplicação dos diferentes tipos de
lasers, na área da saúde, revolucionou vários procedimentos médicos,
proporcionando uma significativa redução no tempo das cirurgias, na
recuperação dos pacientes, nas complicações pós-operatórias, na redução de
edemas, facilitando a biomodulação dos tecidos moles (biorregulação), e um
maior controle e domínio das dores crônicas (BASFORD, 1995).
O termo LASER é uma sigla que se refere
à expressão Light Amplification by Stimulated Emission of Radiation, ou
seja, amplificação da luz por emissão estimulada de radiação, sendo uma forma
de emissão luminosa, o laser está englobado num espectro de emissão
eletromagnética, do mesmo modo que outros recursos utilizados, tais como a
diatermia por ondas curtas, microondas, irradiação ultravioleta e
infravermelha, porém o que difere o laser das demais formas de irradiação de
ondas eletromagnéticas são as suas características de monocromaticidade,
colimação, coerência e a polarização. A
luz laser é unidirecional e, por ser paralela o raio laser, possui divergência
angular muito pequena resultando em um feixe de fótons colimado, essa pequena
divergência permite que através de um sistema de lentes se consiga concentrar
toda a energia do laser de uma forma precisa em um ponto focal. A
monocromaticidade do laser determina a absorção seletiva, sendo uma luz pura,
composta de fótons de mesma cor e mesmo comprimento de onda. A coerência é a propriedade da luz
laser que a distingue de outras formas de luz, ao penetrar no tecido, esta
propriedade se perde nos primeiros extratos da pele. Isto ocorre devido à
grande variedade de estruturas celulares que compõem a pele, apesar da perda de
coerência da radiação do laser de baixa potência no interior dos tecidos, esta
é absorvida pelas células gerando alterações no seu metabolismo tanto em tecidos
superficiais como profundos (SCHAWLOW, 1995).
A luz laser é
produzida como resultado de uma molécula ou um elétron, que quando estimulado
passa a ocupar um alto nível de energia, passando a emitir fótons em ondas de
mesma frequência, com um único comprimento e na mesma direção, originando o
feixe laser. Os equipamentos lasers consistem de uma cavidade óptica, com um meio
ativo, que excitado produz fótons, essa cavidade possui dois espelhos, um com
refletividade total e outro com refletividade parcial, com a oscilação dos
fótons no interior da cavidade, novos fótons são gerados, produzindo luz
coerente e contínua. A radiação laser pode ser refletida, transmitida,
absorvida ou espalhada pelo tecido, quando é absorvida pelo tecido, dependendo
da dose de energia e taxa de fluência, quatro tipos de efeitos podem ocorrer:
efeito fotoquímico, fototérmico, fotomecânico e fotoelétrico (BAXTER, 1997).
Segundo
Brugnera e Pinheiro (2010), os parâmetros que descrevem o laser são o
comprimento de onda; potência média e a potência pico; a área irradiada; forma
de emissão do feixe, o qual pode ser contínuo ou pulsado; a irradiância ou densidade
de potência (DP) e a fluência ou densidade de energia (DE). Esses parâmetros
são ajustados de acordo com a patologia a ser tratada, sendo que, a densidade
de energia é o parâmetro mais importante, pois
determina a energia entregue ao tecido biológico. A dose laser depende
da distância entre a pele e o aparelho laser; do sistema óptico do aparelho
(sistemas de lentes ou espelhos); da divergência do feixe laser; da reflexão;
da transmissão; da dispersão; da absorção e da profundidade do tecido tratado.
O laser pode ser classificado em: Laser de Baixa Potência (LBP), laser
não-cirúrgicos ou LLLT – Low Level Laser
Therapy e Laser de Alta Potência (LAP), laser cirúrgicos ou HILT – High Intensity Laser Therapy.
Segundo Jan Túner e Lars
Hode (2002) a energia laser é a quantidade de luz depositada no tecido, a potência óptica útil
do laser. A energia é uma grandeza que indica a quantidade de potência
depositada por unidade de tempo. A densidade de energia é a taxa de energia
aplicada no tecido; a densidade de potência ou irradiância é potência óptica
útil do laser dividida pela área irradiada, ou seja, a quantidade de energia
depositada em uma determinada superfície, com o controle da densidade de
potência é possível cortar, vaporizar, coagular ou soldar tecidos e gerar
fotoativação em laseres de baixa potência.
Os lasers de
alta potência têm finalidades cirúrgicas, sendo utilizados para corte,
vaporização e coagulação, enquanto que os de baixa potência, são utilizados na
regularização de processos biológicos, como a inflamação, a cicatrização e a
produção de energia (GENOVESE, 2007).
O Laser de Baixa Potência vêm
sendo usados para propósitos terapêuticos desde a década de 60 pelas propriedades do comprimento de onda
capaz de penetrar nos tecidos. Desencadeia como resposta celular, uma cascata
bioquímica de reações e alterações em processos fisiológicos, manifestados
diretamente nas células, produzindo um efeito imediato no metabolismo celular,
aumentando a síntese de endorfinas e diminuindo a liberação de transmissores
nociceptivos, como a bradicinina e a serotonina. O laser terá uma ação direta
na membrana celular de estimulação e analgesia; e um efeito secundário ou
indireto, aumentando o fluxo sanguíneo e a drenagem linfática, determinando sua
ação mediadora na inflamação; e finalmente, haverá a instalação de efeitos
terapêuticos, gerais ou tardios, com a ativação do sistema imunológico
(LIEVENS; VEEN, 2001). Promovendo o alívio da dor de diversas etiologias,
agindo na reparação tecidual, na redução do edema e da hiperemia (SCHINDL,
2000).
O laser
de baixa potência, não aumenta a temperatura do tecido em mais que 1ºC, podendo
ser definida como um tipo de terapia não térmica, provocando alterações nas
células e tecidos, geradas por ativações metabólicas, com estimulação da cadeia
respiratória celular, principalmente sobre organelas celulares (mitocôndrias e
membranas), gerando aumento da síntese de Adenosina Trifosfato (ATP),
modificando o transporte iônico. Acredita-se que existem fotorreceptores
celulares sensíveis a determinados comprimentos de onda, e ao absorverem
fótons, desencadeiam reações químicas, acelerando, em curto prazo, a síntese
(glicólise e a oxidação fosforilativa) e em longo prazo, a transcrição e a
replicação do DNA (KARU, 1997).
As irradiações
com LBP possuem efeitos anti inflamatórios, analgésicos, estimulantes celulares
e modulador do tecido conjuntivo na regeneração e na cicatrização de diferentes
tecidos, produzindo ainda efeitos indiretos, como o estímulo da
microcirculação, provocando uma vasodilatação que beneficia a troficidade local
pelo aumento do aporte de oxigênio e eliminação de catabólitos, favorecendo
também, o aporte de células imunológicas, determinando sua capacidade
anti inflamatória. Para se estabelecer a doseometria é necessário observar a
inter relação dos parâmetros e as propriedades do laser . A padronização dos
parâmetros físicos é importante para o estabelecimento de um protocolo
eficiente e objetivo, seguindo as relações de energia; potência; tipo de
irradiação (contínua / pulsátil); área
(superfície de aplicação) e densidade
de energia (MELLO; MELLO, 2001).
O desenvolvimento de
um protocolo de tratamento clínico depende da
condição do tecido (tecido ulcerado, queratinizado, pigmentado); seu grau de
vascularização; da idade do paciente (condição sistêmica) e do diagnóstico
correto da lesão. Trabalhos clínicos têm sido realizados com o objetivo de se
obter um consenso sobre a exata intensidade, tempo de exposição, densidade de
energia e local de aplicação do laser, entretanto, as variações dos protocolos,
parâmetros do laser e metodologia de aplicação, podem gerar dúvidas quanto aos
resultados obtidos, sendo necessário a realização de mais estudos clínicos com
a finalidade de adequar os parâmetros de utilização.
A Laserterapia é um método eficaz, pouco
invasivo e acessível para o paciente, sem efeitos colaterais e usado rotineiramente
na clínica odontológica, aliviando a dor, estimulando a reparação tecidual,
reduzindo o edema e a hiperemia nos processos antiinflamatórios, prevenindo
infecções e agindo nas parestesias e paralisias (LOPES,2015).
As aplicações clínicas do laser de baixa potência utilizadas nas especialidades odontológica são:
As aplicações clínicas do laser de baixa potência utilizadas nas especialidades odontológica são:
1.Dentística Restauradora: Odontalgia causada por cárie dental, Hipersensibilidade dentinária.
2.Endodontia: Hiperemia pulpar, pulpites, Necrose pulpar.
3.Periodontia: Gengivites, Periodontites.
4.Diagnóstico Bucal: Úlceras da mucosa bucal, Úlcera traumática, Ulceração de autolesão, Ulceração aftosa recorrente, Mucosite, Língua geográfica.
5.Infecções herpéticas: Estomatite, Herpes simples recidivante, Herpes Zóster (vírus neurotrófico).
6.Cirurgia Bucodental: Acidentes na anestesia local, Hematomas, Parestesias, Cirurgias de tecidos moles (reparação tecidual), Extrações dentárias, Cirurgias de dentes retidos, Pericoronarite, Alveolite.
7.Implantodontia: Implantes osseointegrados, Enxertos ósseos, Cirurgia de Levantamento de seio maxilar, Cirurgia de aumento de rebordo(enxerto em bloco), cirurgia de lateralização do nervo alveolar inferior, Distração osteogênica, Lateralização do nervo alveolar inferior, Parestesia.
8.Nevralgia do nervo Trigêmeo.
9.Clareamento Dental.
10. Disfunção da Articulação Temporomandibular.
11. Ortodontia.
Protocolo de aplicação clinica do laser de baixa potência na Odontologia:
AÇÃO
|
APLICAÇÃO
|
POSOLOGIA
|
DOSE
|
FLUÊNCIA
|
|
Úlceras (Aftas) traumáticas
|
analgésica e
antiinflamatória
|
Direto
Ao redor
|
2 è
48 hs
|
0,7 J
|
25J/cm2
|
Gengivite
|
analgésica e
antiinflamatória
|
gengiva inserida
|
2 ou 3 è72
hs
|
0,7 J
|
25J/cm2
|
Pós-operatórios
|
ê edema e dor
|
bordas da sutura
|
72hsèremoção
da sutura
|
0,8 J
|
30J/cm2
|
Pênfigo
Vulgar
|
analgésica e
antiinflamatória
|
Direto è
lesão
|
48 hs èdurante
o surto
|
0,7 J
|
25J/cm2
|
Lúpus
Eritematoso
|
é imunidade e cicatrização
ê desconforto
|
Direto è
lesão
|
48 hs è
durante o surto
|
0,7 J
|
25J/cm2
|
Líquem
Plano
|
é imunidade êdesconforto
|
Diretoè
lesão
|
72 hs è
durante a lesão
|
0,7 J
|
25J/cm2
|
Hipersensi-bilidade
Dentinária
|
analgesia édentina
terciária
|
Polpa, coroa e ápice
|
4 è
72 hs
|
2,5J
|
90J/cm2
é necessário
|
Sensibilidade
pós-clareamento
|
analgesia imediata
|
região sensivel e ápice
dental
|
1 ou 2 è 24
hs
|
2,5 J è
3,5J
|
90 J/cm2 è
120J/cm2
|
Amelogênese
imperfeita
|
analgesia édentina
terciária
|
sobre a região
|
4 è72
hs
|
2,3J
|
80J/cm2
é necessário
|
Nevralgias
|
êdor
relaxamento muscular
reparação do nervo
|
trajeto do ramo do nervo
|
10 è72
hs
|
1,1 J (2-1°s)è 2,8 J
(5°-6°)
|
40 J/cm2
|
Paralisias
e Parestesias
|
êdor
reparação do nervo
|
trajeto do nervo
|
10 è72
hs
|
1,4 J è (2 –1°s) 3,5 J è (5°-6°)
|
50J/cm2
é 120J/cm2
|
Ortodontia
|
região de ativação
|
região ativação
|
ativaçãoè
24 hs = dor
|
2,5J
|
90J/cm2
|
Periodontia
|
êsensibilidade
érep. óssea éaderência fibras
|
região raspagem
|
72 hsè1
mês
|
3,4J
|
120J/cm2
|
Implantologia
|
éreparação óssea
|
6 pontos èimplante
|
72hsè1
mês
|
2,5J
|
90J/cm2
|
Exodontia
|
éreparação tecidual êedema e
dor
|
alvéolo e região da
sutura
|
1è 48hs
72 hs =sensivel
|
1,7 J
|
60J/cm2
|
Xerostomia
|
êsecreção de saliva
|
glândulas salivares maiores
|
96hsèperdurar
|
0,7J è
(2 –1°s) 3°è1,7J.
|
25 J/cm2
(4–5 ap.)è 60 J/cm2
|
Pericoronarite
|
antiinflamatória e
analgésica.
|
região e cadeia
linfática
|
2è 24 hs
|
2,4J è
4 ptos 0,6J
|
20J/cm2
|
Herpes
Prurido
Vesicula
V.Ulcerada
|
ê virulência
analgésica e
antiinflamatóriaé cicatrização, ê dor
|
região e cadeia
linfática
região
|
1-2 è 24hs
1 è 48hs
1-2 è 24hs
|
1,3J
2,0J
0,8J
|
45 J/cm2
70 J/cm2
30J/cm2
|
DTM
|
analgésico,
antiinflamatório, relaxante muscular,
regenaração nervos
|
ATM
musculos
|
72hsèsintomas
|
3ptosè3J
|
80 J/cm2
|
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